Em Causa Amante, Maria Gabriela Llansol desmistifica a figura de D. Sebastião, O Desejado, que desapareceu em Alcácer-Quibir sem indícios certos da sua morte. Segundo reza a História, Portugal esperou pelo seu Rei e acreditou que este reapareceria por entre a bruma, crença que levou ao aparecimento de falsos D. Sebastiões e ao advento da quimera do sebastianismo, que ao modo celta faziam de D. Sebastião um Rei Artur à portuguesa, facto que serviu para demonstrar que o povo português, perante a crise, reage do mesmo modo que os outros povos: cria um mito que lhe traga a esperança necessária para enfrentar as adversidades.
Neste livro, Maria Gabriela Llansol gera um efeito de palimpsesto tal como é proposto por Gérard Genette: parte de uma escrita antiga, para, sobre ela, criar a nova escritura, recobrindo a anterior mas deixando entrever os traços da primeira. Nesse sentido, desconstrói o mito, esta esperança no eterno retorno.
O grande Leitmotiv de Causa Amante é o estilhaçar do mito sebástico, a recriação da figura de D. Sebastião enquanto figura representativa da história de Portugal que, juntamente com Müntzer e S. João da Cruz forma o triângulo da liberdade de espírito. Um ser que entra em mutação e passa do rei encoberto pela neblina a uma árvore, metáfora da vida em permanente construção onde a esperança no renascer é uma constante.
Bibliografia:
FONSECA, António Belard da.1978. Dom Sebastião. Lisboa: [s.n.]
O Sebastianismo: breve panorama dum mito português. 1978. Lisboa: Terra Livre
AZEVEDO, J. Lúcio de. 1984. A evolução do sebastianismo. Lisboa: Presença
GENETTE, Gérard.1982. Palimpsestes. Paris: Seuil
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